quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Primeiras Reflexões

No dia 31 de agosto tivemos a primeira aula presencial do semestre. Nessa aula fomos convidadas a pensar na infância. Mas para mim foi muito emocionante estar novamente em aula como aluna. Na mesma semana, na quinta-feira, mais uma aula presencial, seminário integrador I, em que de tão nervosa (ou ansiosa, não sei bem), esqueci até a senha do meu email. Adaptação de horários, trânsito, dirigir por lugares em que não estava habituada, já que não sou muito experiente, novos lugares, novas, pessoas, novos desafios, novas ferramentas, enfim, um turbilhão de pensamentos, sentimentos e emoções tomando conta de mim, que até hoje sinto dificuldade de organizar para escrever, comecei várias vezes. Mas vamos lá! As interdisciplinas me fizeram viajar no tempo. Primeiro pensar nas “infâncias”: a que tive juntamente com meus irmãos, em que não tínhamos muita participação no mundo adulto, brincávamos em um pátio grande, poucas obrigações, e algumas privações, já que nossa família tinha poucos recursos, a mãe trabalhava em casa e o pai trabalhava bastante, mas em suas horas de folga sempre nos dava atenção, cantava e contava ‘’causos’’, como ele dizia, repetindo os que mais gostávamos. Em contrapartida, não nos era permitido fazer muitas perguntas, com frequência ouviamos como resposta: “isso não é assunto pra criança”. Pensei na infância relatada por meus pais, em que muito cedo as crianças passavam a assumir tarefas hoje consideradas de adultos, se responsabilizando pelos cuidados com os irmãos menores, pela casa e pela alimentação deles, outros acompanhavam os pais no trabalho, ali também trabalhando como os adultos, mas segundo eles essas tarefas, embora pesadas e cercadas de cobranças e exigências, eram feitas naturalmente, pois era a vida que eles conheciam. Na escola pouco iam, se tivessem dificuldades, era melhor não insistir, se aprendeu a ler já está bom, se já cresceu é melhor ir trabalhar. A infância de meus filhos, em um primeiro momento cuidados em casa por mim, depois pela avó, em alguns períodos, e também indo para a creche, que naquela época começava a ter um olhar não apenas de cuidar, mas também de educar, em casa sem tantas privações, mas ainda com algumas dificuldades, sempre precisando esperar um pouco para ter seus desejos atendidos, ou tendo que lidar com a frustração de não ser atendido. Observando as crianças com as quais trabalho, percebo que cada vez mais cedo, vão para a escola, onde são cuidadas e estimuladas em todos os aspectos. Passam lá muitas horas do dia. A maioria são filhos únicos, têm em casa muitos brinquedos, , seus pais têm como objetivo dar a elas o que não tiveram em sua infância, mas não têm tempo, pois trabalham muito para satisfazer suas necessidades e vontades, estimulando assim o consumismo cada vez mais cedo, como vimos em aula. Porém ainda tem crianças que vivem uma infância como a minha, como a de meus pais, cada indivíduo vive sua história como ela se apresenta, de forma única. Mesmo em uma mesma família, e ao mesmo tempo a percepção de cada um é diferente. Junto a todos esses pensamentos, vieram as memórias provocadas pela interdisciplina de Escolarização, Espaço e Tempo na Perspectiva Histórica, como escolhi ser professora, lembranças, momentos especiais, comidas, cheiros, pessoas que já se foram, outras que há muito não vejo, músicas muitas músicas, minhas primeiras lembranças escola, o processo de alfabetização, que para mim foi tranquilo. Foi muito bom reviver tudo isso, para seguir em frente encarando as dificuldades com o moodle, fóruns, blogs, enfim, essas novas ferramentas, esse novo jeito de estudar, tudo isso que é novo para mim, e por vezes me deixa inquieta e desconcentrada, me leva e pensar o quanto muitas vezes a sala de aula e todas aquelas informações que vamos tentando passar para nossos alunos podem ser apavorantes se eles estiverem, preocupados com outros assuntos, ou passando por alguma situação difícil, como por exemplo adaptação a uma nova rotina ou escola.

O Inconsciente

Lendo e relendo os textos e as postagens das colegas nos fóruns, além dos exemplos postados pensei em outra questão recorrente, que percebo no dia a dia, em que penso estar presente a influência do inconsciente. Muitas vezes encontramos pessoas, colegas que dizem não sei fazer “isto” ou “aquilo”, não tenho essa criatividade, geralmente referindo-se a coisas ligadas às artes à expressão. O que me faz pensar que muitas dessas pessoas cresceram em um momento social e político em que não havia liberdade de expressão. Naquela época o poder político, a sociedade, a escola e as famílias cerceavam a liberdade de expressão e consequentemente a criatividade das crianças ficava limitada. Para se adaptar, ser aceito e sobreviver, poderiam as crianças, optar por não se arriscar, não se manifestar, negando sua criatividade, guardando-a no inconsciente. Ao tornarem-se adultos, mesmo em um momento diferente, mantêm no inconsciente as sansões que sofreram, juntamente com o desejo de se manifestar. E, apesar de ter conhecimento da importância, da autonomia para seus alunos acabam por repetir em algumas situações os modelos autoritários que tiveram na infância. Mas quando em algum momento da vida têm a possibilidade de se expressar, experimentam grande satisfação libertando a criatividade aprisionada daquela criança que foram um dia.

A Maquinaria Escolar

Após a leitura do texto "A Maquinaria Escolar" e a aula presencial do dia 05/10/2015, fica cada vez maior minha inquietação sobre a necessidade de mudanças, pois estamos há muito tempo reproduzindo a mesma escola, a mesma estrutura, a mesma organização, a mesma forma de trabalhar.Sendo que o mundo mudou, as crianças que temos hoje são outras. É evidente que as mudanças precisam acontecer, que bom que já estão acontecendo, mesmo que a passos lentos, o que acredito não ser de todo ruim. Pois a ruptura total com os padrões estabelecidos, pode resultar em grande fragilidade. Felizmente temos muitos profissionais empenhados nisso. Mas há um sistema estabelecido do qual somos fruto, e com o qual é muito difícil romper totalmente. Sendo que grande parte dos profissionais que temos hoje têm aquele modelo de educação, e não somente nas salas de aula, no trabalho direto com os alunos. Mas também na direção das escolas, na coordenação pedagógica e nas secretarias de educação. E muitas vezes agem sobre nos professores da mesma forma extremamente autoritária que agiam "aqueles" professores que tivemos. Nos é dito que o aluno precisa ter autonomia, mas o professor não tem. Como podemos oferecer o que não temos? Se escola modeladora não serve mais para os alunos, como pode servir para os professores?