domingo, 22 de novembro de 2015

Pensando a transferência na relação professor/aluno

 Na semana passada a mãe de uma aluna de três anos me disse que a filha diz que quando crescer será professora, segundo a mãe a menina diz: “que nem minha prof. Gi”. Claro que em todos esses anos de trabalho outras vezes ouvi relatos como esse. Mas dessa vez, penso que pelos estudos recentes sobre o desejo de saber e transferência na relação professor/aluno, meu sentimento foi diferente. Lembrei-me imediatamente que quando eu era criança, eu queria muito ser parecida com uma amiga da minha família, que eu gostava muito, me dava muita atenção e carinho, me ouvia e eu criança sentia que ela respeitava meus sentimentos. Ela tinha características físicas muito diferentes da minha família, era descendente de alemães, clara, alta, uma mulher muito grande, e na minha família toda são baixos. Eu dizia: “quando eu crescer vou ser igual a Lurde”, como era chamada, e todos riam. Mas na verdade o que eu queria era ser “o que ela era para mim”. Ao ouvir esse relato pensei que muitas vezes para meus alunos eu sou. A Lurde não era uma professora, e a relação que tive com ela, como uma das primeiras relações que estabeleci fora do círculo familiar, foi muito marcante em minha vida. Considero muito semelhante as relações que estabelecemos com os alunos na Educação Infantil. E sei que muitas vezes transferi para meus professores a confiança e os sentimentos que tinha por ela. Autorizando-os a entrarem em minha vida e desejando muito aprender com eles. Com tudo isso concluo que a transferência também pode se dar, tendo como referência não somente o relacionamento com os pais, mas também a relação com um professor anterior, principalmente nos dias atuais, em que cada vez mais cedo as crianças chegam à escola, e lá estabelecem as primeiras relações fora da família. É muito importante acolher a criança, muitas vezes ainda bebê, transmitindo-lhe segurança para que desenvolva sentimentos de confiança, respeito e por que não dizer amor em relação ao professor, para que essa relação sirva de como modelo, mesmo que inconsciente para relações futuras.