Para
relatar minha trajetória docente, primeiro preciso contar que diferentemente da
maioria de minhas colegas, eu nunca quis ser professora, não era um sonho de
infância, não sabia exatamente o que queria como futuro profissional. Meus pais
pouco estudaram, o que era normal, naquele tempo, no local onde viviam. Mas
sempre incentivaram seus cinco filhos a estudarem. Meu pai era operador de máquinas,
em metalúrgicas trabalhava muito, e minha mãe trabalhava em casa como
costureira. Eles desejavam que nós seus filhos tivéssemos bons empregos, um
trabalho mais leve que o deles, em lojas, supermercados ou escritórios, cursar
uma universidade, naquela época era algo muito distante da nossa realidade. Sou a primeira filha. Fui para a escola, e só
pensava que o que aprendesse lá precisava ensinar para minha irmã. Eu era boa
aluna, um pouco atrapalhada na realização das tarefas, devido ao Disturbio do
Déficit de Atenção (DDA) hoje conhecido como TDAH. Mas quando alguém (irmãos
parentes professores) dizia que eu devia ser professora, eu dizia que não. Eu
pensava que não seria capaz, que era um trabalho de muita responsabilidade, não
era para mim. Ao mesmo tempo, lembro-me de sempre acreditar no potencial das
crianças, e observar como cada uma reagia a determinadas situações, o que lhes
despertava interesse, as reações que tinham frente as ações dos adultos, enfim
o desenvolvimento das crianças sempre me fascinou. Além de meus irmãos eu tinha muitos primos menores
com quem convivia diariamente.
Concluído o primeiro grau, comecei a trabalhar
no comércio e escolhi cursar contabilidade, estudava à noite. Não queria ser
professora.
Casei tive filhos, e minha irmã me falou de um
concurso na prefeitura de Canoas, o cargo Atendente de Creche, a nível de 1º
grau, estabilidade, bom salário, carga horaria de 30 horas semanais, benefícios,
para trabalhar “cuidando” de crianças pequenas e a possibilidade de levar
minhas filhas comigo. Fiz o concurso em 1995 e fui chamada um ano depois,
quando estava grávida de meu terceiro filho.
Comecei a trabalhar em abril de 1996, no final
daquele ano a educação infantil é inserida na LDB como primeira etapa da educação
básica. Ao começar a trabalhar, o que era para mim a possibilidade de um bom
emprego revelou-se ser muito mais que isso. Passei a gostar e me interessar
cada vez mais por tudo o que envolvia o trabalho com as crianças. Era sim um
bom emprego, eu levava para a mesma escola em que eu trabalhava meus dois
filhos menores, mas também era um trabalho que eu desejava desempenhar cada vez
melhor, para isso eu participava das formações oferecidas, de cursos fora ligados
ao desenvolvimento infantil na área da educação e da saúde, prevenção de
acidentes, primeiros socorros e outros que eu acreditasse contribuir para o
trabalho. Observava o trabalho das colegas, para ver o que funcionava e o que
não funcionava, muitos exemplos positivos e também negativos, que mesmo sem
formação pedagógica eu os considerava como adequados ou inadequados.
Naquela
época trocávamos de escola, de turma a qualquer momento, se nenhum aviso,
chegava-se a escola e éramos informadas que deveríamos nos apresentar em outra.
Eu de escola não mudei, trabalhei 6 anos
na mesma, mas de turma passei por trocas. Já fazíamos um planejamento diário,
que era mais voltado à rotina do que ao ensino-aprendizagem, aos poucos fomos aprendendo
mais, digo fomos pois não somente eu, minhas colegas também na maioria, não
tinham formação pedagógica. Pelo que recordo acredito que foi em 1998 que começamos
a falar em Proposta Politico Pedagógica, e em reuniões e grupos de estudos com
uma Supervisora Pedagógica, fomos lendo e discutindo sobre o assunto, e em
seguida fazendo a PPP da escola, penso que trabalhamos nisso praticamente o ano
todo. Reuniões de professores, reuniões e entrevistas com os pais e muitos
estudos. Hoje se lemos aquela primeira PPP que construímos era muito diferente
da que temos, mas era a escola que tínhamos.
Em 2002 cursei o magistério como complementação
de estudos, no colégio La Salle em Canoas, em uma turma em que a maioria dos
alunos eram como eu atendente de creche. Acredito que cursar o Magistério após ter
experiência do trabalho com crianças o curso foi mais significativo.
Há 14 anos trabalho em outra escola, a E.M.E.I.
Bem Me Quer. O PPP, que foi formulada
nela em 1998, já passou por muitas mudanças, anualmente são revistos e
reformulados alguns aspectos. Sempre em reuniões, após estudos e reflexões. O
PPP pode ser considerado um documento vivo, está sempre sujeito a mudanças,
como nos professores sempre buscando aprimorar nossos conhecimentos e nossa prática.
O PPP também precisa ser constantemente aperfeiçoado, pois nele deve estar
contemplada a realidade da comunidade escolar.
Trabalho atualmente com turma mista de Berçário
e Maternal I, com crianças de 1 a 3 anos. Estou sempre procurando conhecer mais
a criança dessa faixa etária e buscando formas de ampliar suas experienciais,
para contribuir com o desenvolvimento de meus alunos.
Avaliar considero muito importante para dar
seguimento ao trabalho e as aprendizagens. É das atribuições do professor uma
das mais importantes e mais difíceis pois requer muito cuidado e atenção, e
deve ser construída no dia a dia.
Dar segmento aos meus estudos
cursando a graduação em pedagogia era um desejo, um projeto que foi
interrompido. O PEAD é um grande desafio, mesmo encontrando dificuldades tenho
tido muita satisfação. Após eu ter retomado os estudos, algumas colegas que não
possuíam graduação iniciaram e outras que já possuíam estão dando continuidade
aos estudos. Uma certeza que me acompanha nesses 20 anos é que meus alunos
merecem o melhor merecem que eu lhe ofereça o melhor.
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